quarta-feira, 5 de agosto de 2009

É POSSÍVEL AMAR DOIS AO MESMO TEMPO

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É possível amar dois (ou duas) ao mesmo tempo?

jules-e-jim.jpg…E com a mesma intensidade? Fiz essa pergunta a mulheres e homens. A resposta varia sempre. Impossível, dizem uns. Claro que sim, comigo já aconteceu, dizem outros. Há uma corrente que pensa da seguinte maneira. Com homem, é simples – uma é amor, a outra é sexo. Com a mulher, seria mais complicado. (não somos todas?) Às vezes ela acha que ama profundamente os dois. Verdade? Mentira? Ou com mulher é igual – amor fraternal e companheiro com um e prazer carnal com o outro?

Existe uma certa unanimidade quando a pergunta muda de tom: dá para sentir paixão por dois parceiros simultaneamente? Aí, a resposta costuma ser não. Eu acho que já fui apaixonada por dois. Mas, de maneira igual, não. Claro que não. Um parceiro preenche apenas alguns anseios, algumas fantasias. Em Jules e Jim (foto), clássico de Truffaut de 1962, Jeanne Moreau, como a charmosa Catherine, confunde os amigos, pula de uma cama para outra, tenta criar um amor a três – que, por um tempo, parece possível. Mas termina em tragédia.

A atriz carioca Maria Flor, 25 anos, grava neste momento em São Paulo um seriado que estreará na TV Globo no dia 1o de outubro. Chama-se Aline. E se baseia na tira de Adão Iturrusgarai, publicada pela Folha de São Paulo. Aline tem dois namorados. Não se trata de um ménage a trois. Ela gosta de um, gosta do outro. Beija um, e beija o outro. Transa com um e com o outro. Separadamente. Aline ama os dois. E disse que o seriado fala de “coisas legais que não envolvem só sexo”.

Conversei com o psicanalista Luiz Alberto Py, que está no terceiro casamento, e tem alguns netos mais velhos do que filhos, sobre o que ele achava do amor por dois ou por duas. Dá? Aí vão as respostas dele. Adianto logo: algumas respostas vão irritar as feministas. Segue o email dele para queixas ou solidariedade: luiz@albertopy.com.br

“Claro que é possível amar vários. O que realmente importa e vai fazer a diferença é a nossa capacidade de dedicação amorosa. Amar, a gente pode amar muitas pessoas. Os árabes têm várias mulheres e amam cada uma a seu jeito. A questão é o atendimento. Se não há muitas demandas no amor, é possível diversificar. Se há muitas demandas, não dá. Tem homem que monta uma casa fora. Vai dizer que ele não ama sua mulher? Ama as duas de maneiras diferentes. A mulher e a amante”.

É possível sentir paixão por duas pessoas ao mesmo tempo?

Luiz Alberto Py – Com paixão, fica complicado. A paixão te envolve de um jeito que não dá espaço para outro parceiro sexual. Se bem que há gente para tudo. Que sente um pouco de paixão aqui e ali. Eu já li que o amor romântico foi invenção da Idade Média, isso não existia antes. O ser humano é muito maleável, adaptável. Há pessoas com agilidade afetiva para levar avante duas paixões.

Homens e mulheres sentem de forma diferente esse amor múltiplo?

Quando a gente fala de sexo, fala de coisas instintivas. O instinto macho é basicamente sexual. E o feminino é relacional. O feminismo veio com uma defesa da ideia de que a diferença seria cultural. Mas o homem não é igual à mulher. Podemos ver pelos animais. Os machos são promíscuos e as fêmeas são monógamas por instinto. O macho, quanto maior descendência deixa, são mais gerações, os genes do macho promíscuo são mais aptos a sobrevivência. Não estou defendendo a promiscuidade masculina. Não falo de uma qualidade, mas de um fato. Com base no estudo da psicologia evolucionista, à luz de Darwin. Na maioria das espécies – mamíferos e aves , especialmente – o cuidado com a prole é maior entre as fêmeas.

Por que o ménage a trois convencional é ‘um homem e duas mulheres’?

O homem tem muito essa fantasia – do harém. Das 1.125 sociedades humanas que foram estudadas por antropólogos, ainda existentes e que já desapareceram, 980 são polígamas – e a regra é de um homem com várias mulheres. A monogamia é uma exceção. Em nossa própria sociedade, passou a existir o que se chama de ‘poligamia seriada’. Os homens vão casando e largando a mulher e casando de novo, e depois mais uma vez ou duas vezes. Até com o pai do presidente Lula isso aconteceu.

Depois da conversa com Py, não se discute aqui quem é mais promíscuo: o homem ou a mulher. Mas transar com muitos ou muitas não quer dizer amar de sobra. Pode significar não amar nunca. Seriados como Aline e vários clássicos no cinema mostram que é possível uma mulher amar dois ao mesmo tempo. Ou dividir os parceiros por categorias. Mais amor para um, e mais sexo para o outro. Em muitas histórias de amor, um homem só não basta.

E você, já amou mais de um(a) ao mesmo tempo?

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